III. “O Princípio Típico”
A.
Definição
É o princípio pelo qual a interpretação
de um versículo ou grupo de versículos que contenha elementos típicos pode ser determinada somente através de uma
interpretação adequada do tipo ou tipos envolvidos.
B.
Amplificação:
a)
Definição de Tipos: O dicionário define a
palavra “tipo” como:
-
Um emblema; um
símbolo; algo que tenha um significado simbólico; aquilo que é emblemático.
-
Uma representação
simbólica alegórica de algum objeto, o qual é chamado de antítipo; um símbolo;
um sinal; teologicamente, esta palavra é aplicada principalmente às
prefigurações proféticas das pessoas e coisas da nova dispensação, que ocorrem
no Antigo Testamento.
A palavra “tipo” vem da
palavra grega TUPOS, que significa “a marca de um golpe ou pancada; uma figura
formada por um golpe ou impressão; a impressão de um selo; a marca feita por
uma tintura; uma figura, imagem, forma ou molde; correspondente; um exemplo a
ser iniciado; um modelo, padrão; uma figura antecipativa.”
É traduzida: sinal marca Jo
20:25; figura At 7:43; Rm 5:14; modelo At 7:44; forma Rm 6:17; figura, exemplo
1Co 10:6, 11; 1Tm 4:12; Fp 3:17; 2Ts 3:9; 1Pe 5:3; padrão, exemplo, modelo Tt
2:8; Hb 8:5.
Com o propósito de definirmos
o Princípio Típico agora em consideração, definiremos “tipo” como sendo “uma
figura ou representação de algo que está por vir; uma figura antecipativa, um
símbolo profético.” Para isto é necessária uma breve explanação da distinção
entre tipos e símbolos.
C.
Distinção
ente símbolos e tipos:
Os
tipos devem ser considerados como um grupo seleto de símbolos que têm
características proféticas e prefiguradoras.
·
Símbolo - Uma
representação, uma coisa que represente a outra.
·
Tipo – Uma
representação profética, uma coisa que prefigure a outra.
Os tipos devem ser
considerados como símbolos proféticos. Isto não significa que todos os símbolos
usados nas profecias sejam tipos. Por exemplo, Daniel 7 é profético sobre os reinos
gentios, os quais são simbolizados nesta passagem como “bestas”. Estas bestas
não são tipos (símbolos proféticos), e sim, símbolos usados em profecia. O tipo
é profético em si mesmo e não depende da linguagem profética para o seu
significado profético. Por exemplo, Gn 22 fornece-nos um tipo com significado
profético sem que haja uma linguagem profética.
Símbolo
|
Tipo
|
Pode representar uma
coisa passada, presente ou futura.
|
É essencialmente uma
prefiguração de algo futuro
|
É uma figura de algo passado,
presente ou futuro.
|
É uma figura do que
está por vir
|
Não tem em si mesmo
nenhuma referência essencial ao tempo
|
Tem inerente em si
mesmo uma referência ao tempo
|
Destina-se a
representar certas características ou qualidades daquilo que representa
|
Destina-se a ser uma
representação pré-designada de algo ou alguém que está por vir
|
Para ser interpretado,
exige uma designação das características, qualidades ou marcas comuns ao
símbolo e aquilo que representa.
|
Para ser interpretado,
geralmente exige um estabelecimento de uma analogia extensiva entre o tipo e
aquilo que tipifica.
|
Rocha - Sl 18:2
|
-
Símbolo
|
Candelabros - Ap 1:20
|
-
Símbolo
|
Cordeiro - Jo 1:29
|
-
Símbolo
|
Arco-íris - Gn 9:13-16
|
-
Símbolo
|
Oliveiras - Zc 4:3
|
-
Símbolo
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Cor branca - Ap 19:8
|
-
Símbolo
|
Número 666 - Ap 3:18
|
-
Símbolo
|
Adão em - Rm 5:14
|
-
Tipo
|
Sacrifícios de animais
- Lv 1-5
|
-
Tipo
|
Cargos de profetas,
sacerdotes e reis - 1Rs 1:34
|
-
Tipo
|
Tabernáculo de Moisés -
Ex 25-40
|
-
Tipo
|
Experiência de Jonas no
peixe - Mt 12:39-41
|
-
Tipo
|
Precisamos
reconhecer que os tipos podem envolver os símbolos, mas os símbolos, em si
mesmos, nunca são tipos.
Em
Êx 12, o evento histórico da Festa da Páscoa é um tipo de Cristo da Sua Igreja.
Dentro deste tipo, há elementos simbólicos como o cordeiro, o hissope, os pães
asmos e as ervas amargas, porém estes itens, por si mesmos, não são tipos.
Em
Êx 17, o evento histórico de se “ferir a rocha” é um tipo da crucificação de
Cristo. Dentro deste tipo, há elementos simbólicos como a vara e a rocha, os
quais, por si mesmos, não são tipos.
As
ilustrações acima mostram o inter-relacionamento dos tipos e símbolos de uma
maneira tal que, ainda que o simbolismo possa ser usado na tipologia, o oposto
nunca é verdadeiro.
D.
Classificação
dos tipos:
Deus, conhecendo o fim desde o início, pôde fazer com
que os escritos do Antigo Testamento fossem feitos de tal maneira que muitos
dos seus elementos deveriam ser considerados como sendo antecipativos daquilo
que viria no Novo Testamento. Os tipos do Antigo Testamento podem ser divididos
em quatro classificações principais: Pessoas, Cargos, Instituições e Eventos.
-
Pessoas: Estas pessoas podem ser consideradas como
prefigurações em seu caráter, cargo, função ou relacionamento com a história da
Redenção.
Rm
5:12-21 – v.14 – “Adão... que é uma figura
(grego; tipo) daquele que viria...”
Paulo, estabelecendo uma extensa analogia, mostra que Adão é um tipo de Cristo.
Cargos: Hb 5:1-10 – v. 4 e 5 – “Como era Aarão, assim também Cristo...” O autor de Hebreus faz uma
extensa analogia mostrando que o sacerdócio aarônico é um tipo do sacerdócio de
Cristo.
-
Instituições: Hb 8:1-5 – v.4 – “Que
servem como exemplo e sombra de coisas celestiais... o tabernáculo.” O
autor de Hebreus faz uma extensa analogia mostrando que a instituição do
Tabernáculo de Moisés é um tipo da instituição celestial.
-
Eventos: 1Co 10:1-11 – v.6
– “Estas coisas foram nossos exemplos (grego;
tipos)...”
v.
11 – “Todas estas coisas aconteceram a
ele como exemplos (grego; tipos)...”
Nesta
passagem, Paulo refere-se a vários eventos históricos das peregrinações de
Israel no deserto como sendo tipos das experiências da Igreja do Novo
Testamento.
Observação:
Deveríamos reconhecer que estas categorias geralmente sobrepõem-se nas
Escrituras, como, por exemplo, um evento incluindo pessoas, cargos e
instituições.
5. Conclusão: O método literário de
prefiguração (tipologia) usado para se escrever as Escrituras dá origem ao Princípio Típico de se
interpretar as Escrituras.
E.
Qualificação:
ü O primeiro passo ao usarmos o Princípio Típico é
discernirmos corretamente quais os elementos da passagem (se houver algum)
devem ser considerados como tipos.
ü O uso deste princípio deve estar constantemente ligado
ao grupo de Princípios do Contexto.
ü Devido ao fato de que os tipos geralmente envolvem
símbolos, o Princípio Simbólico deve ser constantemente usado juntamente com o
Princípio Típico.
ü O intérprete precisa assegurar-se quanto ao ponto
primário de semelhança entre o tipo e o antítipo. Daí então, ele precisa
reconhecer a correspondência total entre eles, fazendo uma extensa analogia.
ü O sentido típico das Escrituras é sempre solidamente
fundamentado no sentido literal. O sentido típico não pode ser usado para
erradicar ou contradizer o sentido verdadeiro.
-
O significado de
um tipo baseia-se na natureza ou características literais daquilo que está
sendo usado como tipo.
-
O tipo tem o
propósito de prefigurar algo essencialmente diferente de si mesmo.
-
O elo entre o
tipo e aquilo que tipifica é a analogia extensiva que pode ser feita entre
ambos.
ü Em termos gerais, a Bíblia interpreta os seus próprios
tipos ou pelo menos nos dá a chave para a sua interpretação. assim sendo, o
intérprete precisa pesquisar em toda a Bíblia para descobrir a chave para a
plena interpretação do tipo. A única salvaguarda contra a imaginação humana
interpretando os tipos é permitirmos que as Escrituras interpretem os seus
próprios tipos. O melhor intérprete das Escrituras são as próprias Escrituras.
Para o honesto pesquisador da verdade, quase não há nenhum tipo usado no Antigo
Testamento que não tenha a interpretação ou a chave de sua interpretação no
Novo Testamento. Muitas vezes, um versículo apenas no Novo Testamento é a chave
para a interpretação de muitos versículos ou capítulos daquilo que é típico no
Antigo Testamento.
-
Jo 1:14 torna-se
a chave para a interpretação de muitos capítulos referentes ao Tabernáculo de
Moisés do Antigo Testamento.
-
Jo 1:51 torna-se
a chave para a interpretação do capítulo referente à escada de Jacó do Antigo
Testamento.
ü Há tipos do Antigo Testamento que não são
interpretados e nem têm chaves de interpretação no Novo Testamento. Contudo,
não há nenhum destes casos que não possa ser seguramente guiado e governado em sua interpretação
através de “exemplos-tipos” que Deus nos dá nas Escrituras.
-
Ef 5:22,23 infere
que Adão e Eva devem ser considerados como tipos de Cristo e da Sua Noiva. Isto
se torna um tipo de amostra pelo qual podemos interpretar outras noivas do
Antigo Testamento como tipos da Noiva de Cristo (Rebeca, Raquel, Rute e Ester).
-
Hb 11:17-19,
juntamente com Jo 3:16, estabelece Abraão e Isaque como um tipo do Pai e Jesus
em Seu relacionamento Pai e Filho. Isto se torna um tipo de amostra pelo qual
podemos interpretar o relacionamento entre Jacó e José como um tipo.
ü Geralmente, um tipo pode ter mais que uma faceta para
sua interpretação.
Tipo Antigo Testamento
|
Ponto de Semelhança
|
Interpretação Novo Testamento
|
Tabernáculo de Moisés
|
Habitação de Deus
|
Cristo – Jo 1:14
|
|
|
Igreja – Hb 3:1-5
|
|
|
Crente – Ef 3:17
|
|
|
Santuário Celestial –
Hb 8:1-5
|
ü O intérprete precisa reconhecer que um tipo deve
geralmente ser considerado como uma profecia. Muitas vezes, Deus instruiu os
Seus servos a fazerem tipicamente o que
Ele faria de fato. Por exemplo, Deus Pai instruiu a Abraão a fazer tipicamente
o que Ele próprio planejava fazer de fato Gn 22. Em outra ocasião, Deus disse a
Israel que fizessem tipicamente com o cordeiro pascal o que Ele cumpriria de
fato com o verdadeiro cordeiro Ex 12. Contudo, precisamos reconhecer que estes
não eram tipos para as pessoas envolvidas, porém eram circunstâncias
verdadeiras. Portanto, Deus toma o verdadeiro como sendo típico, o qual por sua
vez, torna-se profético de outra coisa verdadeira. Todos os tipos devem ser
considerados como sendo ordenados por Deus e não como tendo sido originados
pelo homem. Devido ao fato de que todos os tipos são ordenados por Deus, eles
têm um lugar importante para Ele. Observe a punição de Moisés por haver
estragado um tipo ordenado por Deus através da sua desobediência Ex 17; Nm 20;
Sl 106:33; 1Co 10:1-4.
- Nenhuma doutrina deveria ser construída somente em tipos, porém os tipos podem ser usados para ilustrarem as doutrinas.
- Nenhum tipo deve ser interpretado por um outro
tipo.
- O intérprete deve reconhecer que não existe
nenhum “tipo perfeito ou completo”, pois a própria natureza das coisas
usadas como tipos foi estampada com imperfeição. Contudo, Deus usou o
imperfeito e incompleto como sinais que apontam para Cristo, aquele que é
perfeito e completo.
- O intérprete deve tomar cuidado para não forçar o
Princípio Típico em passagens inadequadas. Alguns intérpretes, desejosos
de personalizar as Escrituras ou de estabelecerem verdades escatológicas
ou até mesmo de encontrarem a Cristo no Antigo Testamento, forçam este
princípio em passagens a ponto de distorcer a sua interpretação.
F.
Demostração:
ü Pessoas: Gn 37-50 – Estes capítulos cobrem a vida de José. Uma
consideração do seu caráter e experiências nos leva a considerá-lo como um tipo
de Cristo. O ponto primário de semelhança deve ser considerado como o
relacionamento do filho com o pai.
Tipo Antigo Testamento
|
Ponto de Semelhança
|
Antitipo
|
José
|
Relacionamento do filho com o pai
|
Jesus
|
Na
analogia extensiva dada abaixo, apenas algumas das correspondências mais
importantes aparecem. Uma interpretação completa deste tipo envolveria muitas
mais.
José
|
Analogia
|
Jesus
|
Gn 30:22-24
|
|
Mt 1:25
|
Gn 29:31
|
|
Is 7:14
|
Gn 37:2,3
|
|
Mt 3:16
|
Gn 37:2
|
|
Jo 10:11
|
Gn 35:22-26
|
|
Mc 3:31,32
|
Gn 37:5-10
|
|
Mt 26:64
|
Gn 37:12-14
|
|
Jo 5:24,30,43
|
Gn 37:18
|
|
Jo 7:3
|
Gn 37:28
|
|
Mt 27:3-10
|
Gn 39:11-19
|
|
Mc 14:55-60
|
Gn 40:1-4
|
|
Lc 23:32
|
Gn 41:40,41
|
|
At 5:31
|
Gn 41:45
|
|
Fp 2:9,10
|
Gn 41:43
|
|
Fp 2:10,11
|
Gn 41:45
|
|
Ef 3:6
|
Gn 45:14,15
|
|
Zc 12:10-14
|
Gn 47:1-7
|
|
Mc 16:19
|
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