Princípio do Contexto


O PRINCÍPIO DO CONTEXTO

I.       CONCEITO
É o princípio pelo qual a interpretação de qualquer versículo é determinada por uma consideração do seu contexto.

II.      DETALHAMENTO

A palavra “contexto” é composta por duas palavras latinas: “con”, que significa “junto” e “textus”, que significa “entretecido”, e denota algo que é “entretecido”. Em literatura, ela se refere à “ligação” ou linha de pensamento que se estende por uma parte ou pelo todo de um escrito. Com relação às Escrituras, a linha de pensamento que se estende por todas as Escrituras, um Testamento, um Livro da Bíblia, ou uma passagem específica.

Ao serem usados por Deus para se entrelaçarem os contextos bíblicos, os escritores das Escrituras utilizaram dois métodos: a escrita de novas revelações, e o entrelaçamento de revelações anteriores.

Contexto de Revelação Nova – Os escritores das Escrituras foram inspirados pelo Espírito Santo para escreverem pensamentos que lhes eram desconhecidos anteriormente. Alguns exemplos disto são: a revelação de Jeremias com relação à Nova Aliança (Jr 31:31-34) e a revelação de Paulo sobre o mistério do Corpo de Cristo (Ef 2:11-3:21). Este método de se escrever um contexto substancia a necessidade de iluminação do Espírito Santo na interpretação das Escrituras. O que o Espírito inspira, o Espírito também precisa interpretar.

Contexto de Revelação Entrelaçada – Sob inspiração, os escritores das Escrituras às vezes entrelaçavam pensamentos que eles já conheciam. Por exemplo, para estabelecer a universalidade da culpa em Rm 3:9-18, Paulo entrelaça cinco citações do Antigo Testamento, e para provar que o Filho é maior do que os anjos, o escritor aos Hebreus (Hb 1:4-14) entrelaça sete citações dos Salmos. Este método de se escrever um contexto substancia a necessidade de um princípio de contexto de interpretação das Escrituras. Se o Espírito usou as Escrituras para escrever as Escrituras, então Ele também usará as Escrituras para interpretar as Escrituras.

A análise dos dois métodos acima nos leva à conclusão de que o método pelo qual o contexto foi escrito dá origem ao princípio pelo qual o contexto pode ser interpretado. O envolvimento da inspiração para se escrever as Escrituras torna necessário que o intérprete receba iluminação. O entrelaçamento do contexto torna necessário que o intérprete use o Princípio do Contexto.

         Estes dois princípios estão um tanto quanto subentendidos em 1Co 2:13, onde Paulo afirma que falamos, não com as palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando coisas espirituais com coisas espirituais.”  A frase “o Espírito Santo ensina” subentende a inspiração e iluminação do Espírito Santo. A frase “comparando coisas espirituais com coisas espirituais” subentende o uso das Escrituras na interpretação das Escrituras, assim como outras versões indicam (“interpretando verdades espirituais com uma linguagem espiritual” – Bíblia Amplificada).

         Um dos mais velhos e respeitáveis adágios da Hermenêutica é:  “As Escrituras interpretam as Escrituras”. Isto nos comunica o fato de que a Bíblia em grande parte explica a si mesma de que o Espírito Santo usa as escrituras para iluminar as Escrituras. Isto realça o valor do Princípio do Contexto como o “Primeiro Princípio da Hermenêutica”.
         Uma amplificação adicional do Princípio do Contexto seria dizermos que uma parte nunca pode ser entendida sem o todo. Isto contrabalança o peso da exegese, que sustenta que o todo não pode ser entendido sem que saibamos o significado de suas partes. Este paradoxo tem sido interpretado pelos intérpretes como círculo hermenêutico, que se alterna da parte para o todo, e do todo para a parte.

O intérprete precisa interpretar o todo como um conhecimento de suas partes, e interpretar cada parte, à luz do todo.

         O contexto das Escrituras divide-se em quatro categorias:

A)    O Contexto do Todo das Escrituras:
O contexto de qualquer versículo específico é o todo das Escrituras. Nenhum versículo deveria ser usado, isoladamente, independentemente de seu relacionamento com o contexto total das Escrituras. A frase “As Escrituras interpretam as Escrituras” significam que o melhor intérprete das Escrituras são as próprias Escrituras.

B)     O Contexto do Testamento:
         Dentro do todo das Escrituras, o contexto de qualquer versículo é o Testamento em que ele se encontra. Cada um dos Testamentos tem o seu próprio caráter e ênfase distintiva. A ênfase geral do Antigo Testamento é a Lei; a ênfase do Novo Testamento é a graça. O ponto divisório entre os Testamentos é a Cruz. Como regra geral, o Novo Testamento é o intérprete do Antigo Testamento.

“O Novo Testamento está no Antigo contido, e o
Antigo Testamento está no Novo explicado.”

C)     O Contexto do Livro:
         Dentro das Escrituras e dos Testamentos, o contexto de qualquer versículo é o Livro específico em que ele está contido. Cada um dos sessenta e seis Livros da Bíblia tem o seu próprio propósito, mensagem, e estilo específicos. (Por exemplo, o tema geral de Romanos é a justificação pela fé, ao passo que o tema geral de Tiago é a justificação pelas obras. Qualquer versículo num destes dois Livros precisa ser interpretado de acordo com o contexto de sua mensagem respectiva).

D)    O Contexto da Passagem:
         Dentro do todo das Escrituras, dos Testamentos, e dos Livros da Bíblia, o contexto de qualquer versículo é a passagem em que ele se encontra. Cada livro da Bíblia é dividido, com relação a assuntos, em passagens, com cada uma delas consistindo de um grupo de versículos consecutivos, que pertencem a um determinado assunto. Quaisquer sentenças específicas ou versículos dentro de uma passagem precisam ser interpretados à luz do contexto do assunto desta passagem (por exemplo, Rm 11:26 precisa ser interpretado á luz do contexto do assunto de Rm 9-11, que constitui esta passagem.).

         O Contexto de um versículo é a passagem.

         O Contexto da Passagem é o livro.
         O Contexto do Livro é o Testamento.
         O Contexto do Testamento é a Bíblia toda.
        
Portanto, o antigo adágio “um texto fora de contexto é um pretexto” precisa ser
re-fraseado e dizer que “um texto fora do contexto de toda a Bíblia é um pretexto.” O contexto de qualquer versículo não é somente a Passagem, mas também o Livro, o Testamento, e toda a Bíblia.

         Concluindo, o método literário de se entrelaçar o contexto, usado para se escrever as Escrituras dá origem ao Princípio do Contexto de interpretação das Escrituras.




III.    COMO USAR?

A.     É preciso que haja uma utilização do Princípio do Contexto, permeando-se em todas as interpretações.

B.     Os quatro aspectos do contexto precisam ser considerados constantemente, e uma ênfase apropriada deveria ser dada a cada um destes quatro aspectos. Uma ênfase exagerada em qualquer um destes aspectos produz um desequilíbrio na interpretação, criando assim o perigo de negligenciarmos imensas áreas da verdade.

C.     Com relação ao Princípio do Contexto, um versículo nunca deveria ser tirado do seu contexto e receber um significado estranho (um significado não subentendido na passagem). Alguns exemplos disto são:

1.    Mt 10:9, 10: Estes versículos são interpretados, algumas vezes, como que significassem que o ministro nunca deve levar consigo nenhuma provisão ao viajar. Estes versículos precisam ser interpretados à luz do seu contexto. Jesus estava especificamente ordenando os Doze Apóstolos para uma missão específica. Se eles forem interpretados como que se referindo a todo o ministério cristão, teríamos que presumir também que o ministério aos gentios e aos samaritanos é proibido, e que somente o ministério à Casa de Israel é permitido.

2.    Lc 24:49: Este versículo é interpretado às vezes como que significando que a Igreja deveria ter “reuniões de espera” para o recebimento do Batismo do Espírito Santo. No entanto, o contexto do Novo Testamento do Livro de Atos mostra que a espera não era necessária após o derramamento inicial do Espírito Santo no Pentecostes. Se este versículo tivesse sido dado para nos mostrar como recebermos esta capacitação, então o contexto também exigiria que fôssemos a Jerusalém e lá fizéssemos a nossa “espera”.

D.     Ao usarmos o Princípio do Contexto, sempre devemos permitir que as claras afirmações das Escrituras interpretem as obscuras. A inversão desta ordem causa confusões. Por exemplo:
1.    Sl 115:17; Ec 9:5: Estes versículos obscuros com relação ao estado dos mortos precisam ser interpretados à luz dos claros ensinamentos de Jesus em Lc 16:19-31.
2.    Is 53: Toda esta passagem permanece obscura ao leitor, ao menos que ela seja considerada à luz da clara narrativa dos sofrimentos do Messias nos Evangelhos. (Observe em At 8:26-35 que Filipe teve que explicar Is 53 ao eunuco).

E.      O Princípio do Contexto pode ser usado para resolvermos problemas e aparentes discrepâncias nas Escrituras:
1.    Gn 35:2: Levanta a questão quanto a Jacó e a sua casa estarem adorando ídolos. A resposta encontra-se no contexto de Gn 31:21 a 35 e Gn 34:26-29, onde descobrimos que os ídolos haviam sido mantidos como heranças familiares, ao invés de objetos de adoração.
2.    Gn 37:25,28,36; 39:1: Apresenta uma aparente discrepância ao confundir os ismaelitas com os midianitas. A solução disto encontra-se no contexto de Gn 16:11,12 e Gn 25:1,2, onde descobrimos que Ismael e Mídiã eram meios-irmãos e estabeleceram-se na mesma região.
3.    Jr 32:4 e 34:3: Parecem contradizer Ez 12:13. Como Zedequias poderia ir à Babilônia, ver o rei da Babilônia, e, contudo, não ver a Babilônia?  A resposta encontra-se no contexto de 2Rs 25:6,7, onde o cumprimento destas profecias é harmonizado. Zedequias viu o rei da Babilônia em Jerusalém, teve os seus olhos vazados e cegados, e, aí então, foi levado cativo à Babilônia.
               Até certo ponto, o uso do Princípio do Contexto nos capacita a determinarmos a aplicação das Escrituras aos pontos específicos da vida que as Escrituras não abordaram especificamente.

IV.    EXEMPLO
       
  “Mas o justo viverá pela fé” - Hb 10:38. 

Vamos considerar este versículo à luz de seus quatro contextos.

A.     O Contexto da Passagem Hb 10:19-12:2:
         O assunto desta passagem é a fé. Esta é a palavra-chave da passagem, usada vinte e sete vezes. O assunto é introduzido em Hb 10:19-22, com uma exortação a nos aproximarmos de Deus com uma total certeza de fé no sangue de Jesus, o nosso Sumo-Sacerdote, o Qual abriu o caminho para a nossa entrada. Ai então os versículos 23-29 seguem com uma exortação a mantermos esta profissão de fé, e com uma admoestação contra uma hesitação ou retrocedimento por causa da incredulidade O Capítulo 10 flui para a expressão em consideração, ao passo que o Capítulo 11 flui para fora dela, sendo que este último Capítulo fornece ilustrações da antiguidade de como os justos de fato viveram pela fé. O assunto é concluído em Hb 12:2, apontando para Jesus que é o Autor e Consumador da fé dos justos.

B.     O Contexto do Livro:
         O propósito do Livro de Hebreus é mostrar a superioridade de Cristo sobre todas as revelações anteriores. Cristo é visto como sendo melhor que os profetas, anjos, Moisés, e Josué. A mensagem principal é que o Sacerdócio de Cristo, segundo a Ordem e Melquisedeque, com o seu Sacrifício Perfeito e Santuário  Celestial encontrados na Nov Aliança é muito superior ao Sacerdócio Aarônico, com os seus sacrifícios animais e santuário terreno dentro da Antiga Aliança. O objetivo do Livro é a fé em Cristo, como Mediador entre Deus e o homem. O tema da fé nos Capítulos 10 e 12 precisa ser considerado em distinção e contraste com o tema da incredulidade nos Capítulos 3 e 4.

C.     O Contexto do  Testamento:
         Pelo fato de que Cristo veio, que é Aquele a Quem o todo do Antigo Testamento apontava, o tema do Novo Testamento é a fé n’ Ele. A expressão que está sendo considerada é incomum no sentido de que três Epístolas do Novo Testamento são desenvolvidas com base nela. O uso desta expressão em Rm 1:17 enfatiza a justificação pela fé em contraste com as obras; em Gl 3:11, ela enfatiza a vida pela fé, em contraste com a morte pela lei; em Hb 10:38, a natureza da fé é contrastada com a incredulidade.

                  Rm 1:17          -        “O JUSTO viverá pela fé”
                  Gl 3:11           -        “O justo VIVERÁ pela fé”
                  Hb 10:38        -        “O justo viverá pela FÉ”

D.     O contexto do Todo das Escrituras:
         A Bíblia como um todo revela que é o pecado da incredulidade que rompe o relacionamento do homem com Deus, e que é somente através da justiça que é pela fé que o homem pode ser justificado aos Seus olhos. Quer seja sob a Lei da Antiga Aliança, ou sob a graça da Nova Aliança, o justo somente pode viver pela fé. É em     Hc 2:4 que encontramos esta expressão sendo usada primeiramente. A relevância desta expressão com relação ao todo do Contexto Bíblico é confirmada pelo seu uso, pelos escritores do Antigo Testamento, como também do Novo Testamento, além da lista dos heróis da fé em Hb 11.

         Deveríamos ressaltar que o próprio escritor da Epístola aos Hebreus utilizou o Princípio do Contexto, interpretando Hc 2:4 à luz das vidas de santos do Antigo Testamento registrados nos Livros Históricos do Antigo Testamento. Assim sendo, ele usou a história do Antigo Testamento para interpretar um versículo extraído das profecias do Antigo Testamento.

2 comentários:

  1. ola´ parabens pelo trabalho, aprendi muito,não tenho curso de teologia, vejo muitos homens que tem uma serta sabedoria que na realidade não me leva a nada o que eles engeta, com exegese dertupadas, com muitos versicolos esolados, defendendo o seu proprio embasamento,vivi num pensamento que não se´podia estudar as escrituras, me ensinavam que a letra mata, seja eria me mata espiritualmente,a farmosa doutrina reveladas pelo espirito de DEUS, não sabia eu que a doutrina ja esta revelada, pelo espirito de DEUS que deu ao seus profetas, apostolos,oje tenho dificudades pra viver no meio do sistema religioso, enbora eu sendo cristão, quando eu me manifesto com refutazão a temas que muitos não gostam de ser contrariado, temas que muitos lideres afirma que somente ele e o sarcedote levita, que foi dado a ele segundo a ordem de Milquisedeque, na exegese dele ele afirma que ele e sacerdote, e tem todos os direitos como os levitas do velho testameto, podendo ele agora pegar os dizimos do seus fies, mesmo não sendo levita, gostaria dum comentario sobre este tema muito conplicado que a religião implantol como uma verdade para todos os cristão viver como regra de fé, como eu senpre era ensinado a dar 10% te doda a minha renda, caso eu retese , eu era amaldiçoado , ladrão , avarento, etc....aguardo uma avaliaçao sobre meo embazamento , pas do Senhor Jesus cristo

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  2. Uma ótima ajuda para uma melhor compressão das Escrituras.
    Obrigado.

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